CATTEYA LEOPOLDII- CATTLEYA TIGRINA- A BELEZA TEM MAIS DE UM NOME-




Essa Cattleya Brasileira de muitas flores, foi descoberta em 1855, quando  a viagem de coleta de plantas da firma belga Verschaffelt a levou daqui juntamente com outros espécimes de nossa flora para a Europa, onde foi descrita por Lemaire, não como uma nova espécies, mas  como variedade da Cattleya guttata Lindley, recebendo então o nome de  Cattleya guttata var. leopoldii em homenagem ao rei Leopoldo I da Bélgica, um apaixonado admirador de orquídeas. Mas essa “variedade” que foi identificada e descrita como Cattleya guttata, era na verdade uma Cattleya tigrina, porque a espécie já tinha sido descrita sete anos antes e  classificada por Richard.
Mas na época a descrição de Lemaire recebeu maior divulgação que a descrição original de Richard, e o erro perdurou por muito tempo e foi solucionado apenas recentemente com o restabelecimento do nome correto dado a esta espécie, pois a diferença entres a Cattleya tigrina e a Cattleya guttata são muitas!
 Uma dela é a época de floração, a Cattleya tigrina floresce de Novembro a fevereiro enquanto a Cattleya guttata de Fevereiro a Abril. Existem outras muitas outras diferenças, como por exemplo o habitat, o comprimento das folhas, o labelo, o tamanho das flores, o colorido, etc. Mas mesmo passado muitos anos, ainda hoje, existem muitos taxonomistas que consideram a Cattleya tigrina, e também  Cattleya leopoldii, sinônimos da Cattleya guttata, da qual seria apenas uma variedade de maior interesse horticultural cuja permanência como espécie autônoma é mantida mais por hábito de muitos colecionadores, do que por comprovação científica.

A Cattleya tigrina é encontrada no Brasil desde a faixa litorânea vegetando em restingas e na Mata atlântica do sul da Bahia passando pelo Rio de Janeiro e indo até o Rio Grande do Sul em estreita faixa de matas *higrófilas, que rodeiam lagoas, banhados, dunas e pequenas elevações de terra. A maior ocorrência da Cattleya tigrina era no sul, indo desde as cercanias de Porto Alegre até o litoral sul de Santa Catarina onde ela avança por grandes distâncias para o interior, ao longo das margens dos rios e pelas brechas existentes nos contrafortes da Serra do Mar, sempre pela ação dos ventos dominantes que sopram do oceano para o continente, incursões nas quais é frequentemente acompanhada pela Cattleya intermedia, estando  hoje quase extinta na natureza, pois seu habitat infelizmente foi muito destruído pelo próprio homem. 

A ação predatória radical deve-se ao fato da sua floração ocorrer justamente no início das férias de verão, durante a frenética corrida dos turistas em busca do litoral, movimento que garante aos moradores virarem  mateiros e garantir um bom lucro com a venda das plantas em flor e também a morte da maior parte destas, pelo fato da maioria dos compradores não terem sequer a menor ideia de como cultivá-las. Isso causou um impacto ambiental sem precedentes, mas muitas dessas plantas foram preservadas por orquidófilos experientes, que hoje graças ao manejo correto e a micro propagação invitro conseguem multiplica-las e usa-las em cruzamentos entre si para o melhoramento genético da própria espécie, e assim  podendo voltar a natureza  em áreas que hoje são preservadas e monitoradas. É sempre bom lembrar que retirar plantas de seu habitat causa impacto ambiental e é considerado crime, além disso, plantas retiradas da natureza tem muita dificuldade de adaptação em novo local correndo o sério risco de morrer.
 Atualmente a espécie é facilmente encontrada em orquidários de renome aqui no Brasil onde as plantas nascem adaptadas ao cultivo domestico. Possuem muito mais resistência e florescem com maior abundância.

A Cattleya tigrina possui pseudobulbos eretos, cilíndricos e levemente sulcados podendo atingir até um metro de altura e as vezes podendo até passar um pouquinho...
É uma Cattleya do grupo das bifoliadas com folhas grandes, as vezes três folhas, oblongas e elípticas, coriáceas e grossas. A Inflorescência surge no ápice do pseudobulbo de espata verde, logo após a maturação do bulbo, sem fazer a dormência.
As flores da Cattleya tigrina possuem labelo mais largo que a Cattleya guttata, e normalmente, ou na maioria dos exemplares, possuem o tubo polínico de cor atropurpúrea, completamente colorido com exceção das variedades que mesclam as cores, e a coloração das pétalas e sépalas  mais escura. A cor típica é geralmente marrom com pintas escuras e a haste floral pode conter entre 2 e 8 flores e em algumas plantas esse numero vai além podendo chegar a mais de vinte flores, onde o tamanho das flores acaba diminuindo mas o formato é de um cetro de flores! O tamanho das flores geralmente bem distribuídas no racemo floral mede de 8 a 10 centímetros de diâmetro, podendo, excepcionalmente, atingir até 12 centímetros em alguns clones excepcionais, mas a média ainda é maior do que a Cattleya guttata. Sendo esta uma das características que a distinguem da Cattleya guttata, cujas flores, quase sempre em maior número, são bem menores que a Cattleya tigrina.

 Hoje em dia a variedade de cores e formas aumentou com o melhoramento genético e hoje chega a mais de dez. Antigamente além da cor típica existiam poucas variações de cor da Cattleya tigrina, entre elas a Albina e a Aquinii “. Essa situação foi alterada quando um orquidófilo encontrou no extremo sul do habitat, a Albescens, posteriormente rebatizada com a bela e sugestiva denominação de "Cetro de esmeraldas", um  dos clones mais famoso e maravilhoso que ainda hoje depois de mais de 20 anos depois, ainda continua sendo objeto do desejo da maior parte dos colecionadores, pois sua floração é única!  Alguns anos mais tarde surgiram a Vinicolor e Semi-alba. O grande alvoroço dos orquidófilos, no entanto, ficou por conta do achado das coerúleas! Momentos de emoção dos colecionadores ocorreram também com o achado de duas esplêndidas trilabélias e uma Aquinii, no início da década de 80.

Recentemente através  do interesse do estudo da espécie, foi achado o habitat de plantas semi-albas, suaves e lilácinas . O que mais surpreende é que se não fosse achadas antes do desmatamento essas plantas únicas poderiam simplesmente nem existir  , visto que as matas em que foram encontrados foram derrubadas para dar lugar a lavouras ou a pastagens ou simplesmente para transformarem-se em carvão. O valor do achado é além da beleza das flores e da sua raridade, o grande potencial genético para a germinação de plantas mais adaptáveis e perfeitas em forma e em colorido, além da possibilidade de repovoar os habitats destruídos um dia.
A espécie, como a maioria das epífitas, é xerófita, pois vive grande parte do tempo seca e está perfeitamente adaptada a essa situação, razão pela qual o seu cultivo deve ser conduzido de forma que as raízes não permaneçam encharcadas por muito tempo, o que explica sua preferência por substratos grandes e porosos, pedras e cachepô de madeira, além de troncos e cascas de madeira de apodrecimento lento. Essas são as opções que satisfazem melhor suas necessidades de aeração. O crescimento da Cattleya tigrina é lento devido ao prolongado repouso de pós-floração, tornando a brotar somente meses depois fazendo com que a espécie tenha um lento desenvolvimento, e consequentemente aversão a retirada de mudas frequentes.

*Vegetação higrófila: Vegetação adaptada à grande umidade. As raízes desses vegetais são pequenas e as suas folhas são grandes para facilitar a evaporação, além de possuírem caules bastantes desenvolvidos.

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